domingo, 24 de fevereiro de 2008

Pecados Íntimos [Little Chidren]

Tirem as crianças da sala!!! Não, não vou falar sobre filme pornô (esse é um blog de respeito, oras), mas não recomendo que você assista a esse filme acompanhado daquele seu sobrinho pentelho ou enquanto a sua filhinha de três aninhos curiosa estiver por perto.

Pecados Íntimos fala de Sarah (Kate Winslet), casada e mãe de uma menina. Sarah leva sua filha para brincar no parque. Sentada num banco, lendo seu livro, observa com certo distanciamento a conversa de três outras mulheres que também freqüentam o local com a mesma finalidade. A atenção delas é despertada pela presença do bonitão Brad (Patrick Wilson), que volta e meia aparece por lá com seu filho pequeno. Sem coragem de iniciar um diálogo, as moças o chamam de O Rei do Salão. Este, por sua vez, mesmo sem saber, desperta nelas desejos sexuais há muito escondidos.

Não demora para que Sarah e Brad, depois de uma brincadeira que dá errado, desenvolvam uma afeição mútua. E se tudo parece normal demais, surgem dois elementos externos às histórias de subúrbios que tornam a história intrigante e evidencia suas discussões. Volta à cidade, depois de cumprir pena, um pervertido, preso por exibir-se para uma criança. É como se um tubarão (a cena da piscina é poderosíssima para gravar essa imagem) entrasse numa pacífica lagoa. A outra é a entrada de Brad para uma liga amadora de futebol americano, atendendo aos apelos de um amigo antigo e ex-policial (Noah Emmerich), cujo hobby é incomodar o ex-presidiário e sua mãe todas as noites.

A história do pervertido, vivendo com a sua preocupada mãe (tão superprotetora quanto às do parquinho), é a melhor. Seria ele um sujeito realmente perigoso - seu ato o primeiro de uma série - ou alguém que errou uma vez, pagou o preço, e está de volta reabilitado? O personagem é vivido por Jackie Earle Haley, um antigo astro-mirim da década de 1970, que entrega-se totalmente ao trabalho.

Talvez o principal mérito de Pecados Íntimos esteja na construção dramática de seus personagens. As ações de Sarah e Brad, certas ou erradas, são coerentes com os respectivos sentimentos ao longo da trama. Não há pressa. Não há exageros. Nada soa forçado. Por mais reprovável e injustificável que seja, o adultério cometido pelos dois protagonistas surge como uma conduta perfeitamente compreensível no contexto da história. Por sua vez, a reação nada romântica de Ronnie ao final de um primeiro encontro amoroso, é por nós aceita como plenamente possível diante do momento dramático do personagem. Roteiro bom é isso: timing é o segredo de tudo.

Por melhor que seja o título nacional, teria sido melhor manter o original (Criancinhas ou Pequenas Crianças). Quem são as verdadeiras criancinhas? Seria Ronnie, o adulto infantilizado pela mãe dominadora? Seria o casal Sarah e Brad, imaturos na forma como tentam resolver suas próprias fragilidades? Seriam as próprias crianças, assustadas com a ameaça de um psicopata na casa ao lado? Seriam as três esposas do parque, que de tão fiéis à instituição do casamento, praticam sexo com hora marcada e nem percebem que o parceiro adormece durante o ato?

O desfecho tem um certo tom conformista, de aceitação, que inicialmente incomoda. Mas conforme passam as horas ele cresce e transcende o óbvio, respeitando seus personagens. Field e Perrota (roteiristas) sugerem que eles são todos cheios de falhas, mas o pervertido é o único que conhece as suas. De certa forma, é a única pessoa honesta na hipócrita comunidade - e a única capaz de amar de verdade e fazer sacrifícios em nome desse amor.

Destaque: a cena do adultério em cima da máquina de lavar. Não vou nem comentar.. vou deixar por conta de quem assistir.

Uma curiosidade: Foi Kate Winslet quem sugeriu Patrick Wilson como intérprete de Brad.

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