quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A Fantástica Fábrica de Chocolate [Willy Wonka and the Chocolate Factory]

Não li o livro original!!! Começo com essa sentença para alertar que não estarei apto a fazer correlações entre ele e o filme dirigido por Mel Stuart. Sei apenas, de leitura e opiniões de quem já leu e assistiu ao filme que há muitas diferenças entre ambos. Não importa! A Fantástica Fábrica de Chocolate (ou Willy Wonka and the Chocolate Factory no original) é um filme mágico.

Todos os seus atos são praticamente perfeitos, e existem cenas inesquecíveis em cada um deles. Também não entrarei em questão alguma sobre o que existe por trás dos filmes. Há até hoje muita falação sobre o roteirista que não gostou da versão final, do autor que detestou o filme, enfim, isso não é o ponto em foco nesta crítica. Finalmente, não entrarei em comparações com a nova versão da história lançada recentemente.

Charlie é um menino muito pobre que vive com seus quatro avós e a sua mãe em uma casa caindo aos pedaços. É possível, em todos os momentos, sentir a dor da família, mas esta sempre se contrasta com a alegria e esperança de Charlie por um futuro melhor, digno. Ele tem fortes esperanças de trazer ao menos um pouquinho de alegria para seus familiares. Quando o grande e misterioso Willy Wonka promove um concurso que abrirá para cinco felizardos as portas de sua ainda mais misteriosa fábrica de chocolate, essa esperança acende-se mais forte do que nunca.

A batalha não será fácil: sem dinheiro para comprar chocolates e procurar por um dos tickets premiados, Charlie é um mero espectador desse evento mundial. Seu professor (figura bizarra) caçoa dele por não ter comido centenas de barras de chocolate como todas as outras crianças - esta é a imagem da tristeza, quando começamos a sentir por Charlie e a torcer por seu personagem. E, quando o espectador importa-se com um personagem, ele vai se interessar muito mais pelo filme.

Todos os quadros apresentando as crianças premiadas (obviamente Charlie, por sorte do destino, acabará sendo uma delas) são únicos, possuidores de um humor cruel e adulto. Embora marqueteado até hoje como um filme infantil, apenas os mais crescidos, se lhe interessarem, poderão desfrutar das sutilidades que o roteiro apresenta, um estilo peculiar que se demonstra bizarro e cômico ao mesmo tempo.

Mas ainda nem chegamos na fábrica de chocolates! É onde o magnífico Gene Wilder entra em ação, como Willy Wonka. Com uma cena de introdução meio que improvisada (uma cambalhota inesperada e estupidamente divertida), ele mostra, à princípio, ser uma figura amistosa e muito simpática. Claro que essa impressão inicial não durará para sempre...

As coisas vão ficando mais e mais estranhas quando as crianças entram na fábrica. Contratos esquisitos com linhas ilegíveis, salas com todos os objetos cortados pela metade, tiradas inteligentes e rápidas de Wonka, ironias para com as crianças mal-educadas e seus pais irresponsáveis. O filme, num todo, é uma grande lição de moral para os pais. No final a mensagem apresentada é lindíssima e consegue fugir da pieguice, ainda mais se considerarmos a época conturbada em que o filme foi realizado. Uma mensagem que hoje seria considerada simples e muito clichê, mas que encaixou-se como uma luva no filme.

A direção de arte é um caso que deve ser discutido à parte. Muitos a consideram simplesmente de mal gosto - isso nos dias atuais. Que nada! Ela é belíssima. Com recursos bem limitados e efeitos especiais quase que nulos, o filme ainda hoje apresenta um visual estonteante. Não é difícil soltar a imaginação e deixar-se levar pela idéia de você ser uma daquelas cinco crianças sortudas. A cada nova sala da fábrica que o grupo de visitantes adentra existem inúmeras surpresas, algumas esquisitas, algumas divertidas, algumas bizarras, algumas com nomes estranhos, com aparência estranha, com barulhos estranhos. Fica complicado não se repetir ao afirmar que é um grande e impressionante mundo mágico.

Os Oompas Loompas - trabalhadores da fábrica - são figuras assustadoras. Anões de pele laranja e cabelos verdes que gostam de cantar canções bizarras (mas estas até hoje permanecem na minha cabeça) e fazer acrobacias. Ao lado de Willy e da direção de arte, são o coração da fábrica e do filme. Visualmente são os elementos mais inesquecíveis e musicalmente, também.

Charlie é possivelmente o melhor filme infantil voltado para mentes adultas. Pode ser sim apreciado por crianças, mas só será totalmente aproveitado por adultos com um mínimo de esperteza e boa vontade. Embora já tenha mais de três décadas de vida, apenas algumas cenas aparentam ser tecnicamente datadas. Já seus personagens não - estão serão eternos enquanto durarem. Uma obra-prima e um filme imperdível, que merece ser adquirido em qualquer mídia possível para ter e ver e rever muitas vezes.

Nenhum comentário: