"Todo grande truque de mágica consiste em três atos. O primeiro ato é chamado "A Promessa": o mágico mostra à platéia alguma coisa ordinária… mas que naturalmente não o é. O segundo ato é chamado "A Virada": o mágico faz essa coisa ordinária fazer algo extraordinário. Agora, você está procurando pelo segredo… você não o encontrará, e é por isso que há um terceiro ato chamado "A Fascinação" ["The Prestige"]: esta é a parte das reviravoltas, onde as vidas ficam suspensas e você vê algo chocante que nunca havia visto antes."Você está olhando atentamente??
O filme do diretor Christopher Nolan se passa na virada do século XIX para o século XX e conta a história de dois mágicos: Alfred Borden (Christian Bale) e Robert Angier (Hugh Jackman). No começo, os dois eram grandes amigos, até que um incidente separa os mágicos.
Nolan jamais subestima a inteligência do espectador. Ao contrário, ele empurra a platéia a momentos de reflexão.
A estrutura do roteiro, escrito pelo próprio Nolan e por seu irmão Jonathan, faz deste, o filme mais difícil do cineasta desde Amnésia. Com o constante vai e vém no tempo, sempre sem aviso ou rodeios, e narrações de diversos personagens, O Grande Truque é um filme que exige um cineasta de talento para se tornar atrativo aos olhos do espectador. Neste sentido, Nolan comprova mais uma vez sua habilidade em contar histórias, mantendo a narrativa segura, com foco não nos truques dos mágicos, e sim na rivalidade entre os dois, uma escolha que revela-se muito acertada.
Ao abordar a trama desta forma, O Grande Truque deixa de ser apenas um “filme de mágicos” para se transformar em um estudo da natureza humana. Nolan tem condições de explorar os personagens e suas motivações, enriquecendo a obra. Se a dedicação completa dos mágicos à sua arte impressiona, é a obsessão quase cega deles em destruir um ao outro que eleva o nível do filme.
Assim, com espaço para os personagens, quem ganha chance de destaque é o elenco. Hugh Jackman oferece aqui provavelmente a sua interpretação mais completa, construindo um personagem tridimensional que passa por diversas transformações na obra. Por outro lado, é difícil dizer que esta é a melhor interpretação de Christian Bale (o ator tem diversos grandes trabalhos), mas seu desempenho em O Grande Truque é o perfeito contraponto à atuação de Jackman. Bale cria um Alfred Borden completamente apaixonado por aquilo que faz, capaz de devotar sua vida a isso. É um homem muito mais frio do que seu rival, uma vez que não hesita nem em machucar aqueles a quem ama.
O elenco ainda traz o sempre ótimo Michael Caine na pele de Cutter como uma espécie de mentor dos mágicos, o engenheiro que inventa os truques. O ponto fraco fica por conta da assistente de palco Olivia Wenscombe (Scarlett Johansson), completa e totalmente desperdiçada em um papel pequeno, que certamente não condiz com seu talento e status.
É uma sensação extremamente agradável assistir a um filme como O Grande Truque, no qual é difícil antecipar o que irá acontecer no minuto seguinte e, muito menos, como tudo irá terminar.
Para mim, o ponto menos positivo do filme é referente à invenção utilizada por um dos mágicos. Ainda não fiquei totalmente convencida de que colocar algo, digamos, “impossível” na obra tenha sido a melhor alternativa, uma vez que diminui o talento de tais artistas ao mostrar algo que não é um truque – além, claro, de tirar um pouco da realidade da produção.
Uma curiosidade: Este é o 2º filme em que o diretor Christopher Nolan trabalha com os atores Christian Bale e Michael Caine. O anterior foi Batman Begins.


Com um pouco de receio, resolvi assistir ao tão divulgado filme. Digo com receio porque, ultimamente, os filmes baseados na obra do mestre Stephen King têm sido verdadeiros acidentes de percurso. Desde À Espera de um Milagre, as obras desse autor não têm recebido a mesma atenção ao serem adaptadas para o cinema.


